26 março 2013

Simpósio Abralic 2013


O prazo para inscrição da Abralic vai até o dia 19 de abril. 
Para se inscrever, siga os procedimentos no site do evento, em www.eventosabralic.com.br/.

Encaminhamos abaixo proposta de Simpósio que apresentamos. 
Se necessitar de mais informações sobre 
este
 
 S
impósio, favor contactar-nos.

Literatura e Dissonância
Coordenadores
Prof. Dr. André Dias (UFF)

Prof. Dr. Rauer Ribeiro Rodrigues (UFMS)


A proposta do simpósio é examinar a manifestação da dissonância nos discursos literários, para discutir o modo pelo qual os mais variados autores se constituíram, através desses discursos, como vozes questionadoras de seus tempos e de suas sociedades. O tema está associado aos artistas e intelectuais que analisaram de maneira profunda e intensa aspectos primordiais das mais variadas épocas e construíram uma crítica aos valores presentes nessas realidades sociais.  A ideia central é abrir espaço para o diálogo entre pesquisadores que concentram o olhar sobre autores e intelectuais que divergiram das ideologias dominantes, na poesia e na prosa, nos mais variados momentos históricos, nacionalidades ou segmentos sociais. O que se espera é que os trabalhos apresentados discutam, entre outras questões, o problema teórico do intelectual frente às variadas ideologias, quer sejam elas hegemônicas ou não, e o problema histórico dos escritores diante do status quo, manifestado no âmbito da política, da moral, dos costumes, da economia, etc.
Nenhum discurso é proferido no vazio, já advertiu Mikhail Bakhtin (2003) em Estética da Criação Verbal. Não há razão para ser diferente com a literatura. Sendo assim, ao abordarmos a temática Literatura e Dissonância necessariamente levamos em conta o fato de que todo enunciado — unidade básica do conceito de linguagem em Bakhtin — exige a presença de um enunciador (quem fala, quem escreve) e de um receptor ou enunciatário (quem ouve, quem lê). Consideramos ainda que um enunciado é único e impossível de se repetir, pois exige uma realização histórica, acontece em um determinado local e em um tempo determinado, é produzido por um sujeito histórico e recebido por outro. Dessa forma, ao nos aproximarmos dos discursos literários temos sempre em vista tais premissas, que norteiam o desenvolvimento das nossas reflexões e ajudam a ampliar os sentidos das análises.
O fórum, observada a premissa da dissonância no âmbito de estudos de literatura e do comparativismo, acata propostas que vão desde o enfoque do ensino da literatura à discussão teórica do embate entre o local e a dissolução das identidades, passando por descrições de obras e por interpretações de propostas estéticas. De modo que, seja no âmbito das territorialidades cujos limites se esvaem diante da instantaneidade das comunicações globais, seja no âmbito do regional esvaziado no mesmo diapasão em que os conceitos de literatura e de literariedade vigentes nos séculos XIX e XX perdem sentido com as realizações e as propostas estéticas dos autores do século XXI, procura-se o dissonante na antiga ordem hierarquizada, no recente e finado mundo bipolar ou no universo multilateral que se instaura. Há que se considerar, ainda, estudos comparativos entre autores que, mesmo distantes no tempo e no espaço, fixam a seu modo o questionamento de valores hegemônicos, constituindo uma família literária pelo liame da rebeldia e da inquietação.
“Numa obra bem sucedida”, nos diz o ficcionista Cristovão Tezza (2012), estudioso do pensamento de Bakhtin (Tezza, 2003), “partilhamos a utopia de um mundo possível que, sem ocupar lugar real no espaço, será sempre uma chave generosa para que encontremos, narradores e leitores, nosso próprio espaço real.” Diante disso, vemos que há, pois, encontros vários, tanto os possíveis quanto os utópicos, construídos no espaço entre a estesia da representação literária e sua recepção, entre a proposição autoral idealizada, a atuação indiciada do narratário criado ficcionalmente e a resposta concreta obtida pelo leitor que divaga ou pela crítica, sendo a crítica e as leituras suplemento que se acumulam em palimpsestos infindos.
Do ponto de vista da historiografia literária, qualquer que seja o modo analítico proposto, os problemas se sucedem, pois os últimos anos têm sido de deslocamento incessante dos postulados teóricos, cujos embates com o mundo concreto vem sendo cada vez mais inglórios, considerando a acelerada mutabilidade das circunstâncias sociais, políticas, históricas e das representações simbólicas, no âmbito das artes em geral e da literatura em particular.
Levantar questionamentos, de preferência contundentes, e, eventualmente, produzir alguma conclusão, ainda que dissonante e provisória, é o que se espera alcançar.

Referências Bibliográficas

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BOSI, Alfredo. Literatura e resistência. São Paulo: Cia das Letras, 2002.

DIAS, André. Lima Barreto e Dostoiévski: vozes dissonantes. Niterói, RJ: Editora da UFF, 2012.

SARTRE, Jean-Paul. Que é literatura? Trad. Carlos Felipe Moisés. São Paulo: Ática, 1989.

TEZZA, Cristovão. Entre a prosa e a poesia: Bakhtin e o formalismo russo. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.

TEZZA, Cristovão. O espírito da prosa: uma autobiografia literária. Rio de Janeiro; Record, 2012.

TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. Trad. Caio Meira. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009.

VARGAS LLOSA, Mário. A verdade das mentiras. Trad. Cordelia Magalhães São Paulo: ARX, 2004.

Rauer Ribeiro Rodrigues (UFMS-Três Lagoas) 

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